Condromalácia patelar é um termo usado para designar dores relacionadas à cartilagem hialina que recobre parte da patela ou da tróclea femoral. O tratamento quase sempre é conservador. A partir do exame físico bem feito, o paciente é indicado a um profissional da educação física ou fisioterapeuta para fortalecer e alongar alguns grupos musculares
Há alguns meses, recebi uma figura ilustre em meu consultório. Ex-atleta de futebol, natural de Ribeirão Preto, revelado para o esporte pelo São Paulo e um dos maiores ídolos da história da equipe alemã do Schalke 04, Marcelo Bordon me procurou queixando-se de dor anterior no joelho, problema conhecido por alguns nomes diferentes, como condropatia patelar e condromalácia patelar.
Como atleta, Bordon sempre se notabilizou por ser um jogador forte e zeloso com sua condição atlética, seguindo as orientações dos preparadores e fisioterapeutas dos clubes pelos quais passou à risca. Depois de se aposentar dos gramados, ele seguiu preservando o mesmo hábito, não por acaso, é empresário no ramo de academias. Ao passar em consulta comigo, receber o diagnóstico, as orientações e as recomendações para um tratamento conservador baseado em fortalecimento e alongamento, Bordon não teve dificuldade em cumpri-lo e ficar, como se diz popularmente, “zero bala”.
Por causa dessa história, eu me animei a escrever sobre o problema que Bordon teve e superou com a ajuda dos profissionais da Acahdre, nome da academia que ele fundou em Ribeirão Preto e onde, embora possa não parecer, eu treino sempre que possível. Na realidade, quem me conhece sabe que dei uma boa “secada”.
Bom, vamos à condromalácia patelar…
Uma síndrome e seus vários nomes
Condromalácia patelar é um termo usado para designar dores relacionadas à cartilagem hialina que recobre parte da patela ou da tróclea femoral.
Um termo bastante usado é condropatia patelar, que, etimologicamente, quer dizer: cartilagem doente. Outro termo, tecnicamente mais preciso, mas possivelmente menos simpático ao grande público, é “síndrome da dor anterior no joelho”. Essa última expressão é a mais apropriada do ponto de vista técnico porque descreve um sintoma que pode ter múltiplas causas: a condromalácia na acepção estrita do termo, ou seja, resultado do amolecimento da da cartilagem; a condropatia, termo mais apropriada quando se trata de uma cartilagem doente, mas não necessariamente mole; e, até mesmo, idiopática, ou seja, quando não se sabe a causa, pois a cartilagem não aparenta ter patologia nenhuma.
Fontes do problema
A ocorrência de lesões que provocam a “condromalácia” pode ter como fonte alguns fatores: características anatômicas, como displasia da articulação femoropatelar — comum em mulheres —; atrofia da musculatura do quadríceps; pé plano ou em valgo também são associados à condromalácia; injeções ou infiltrações com anestésicos e corticóides em altas doses podem trazer danos à cartilagem e causar o problema; traumas são, igualmente, fatores geradores; e alguns tipos de alinhamento do eixo do membro inferior também.
As pessoas mais propensas a desenvolver a condropatia patelar são jovens adultos que praticam esportes de impacto, como corrida, ou trabalhadores cujas atividades geram estresse na articulação femoropatelar, caso de profissionais que precisam subir escadas com frequência ou ficar de joelhos. Mulheres são mais propensas a desenvolver o problema, porque o ângulo formado entre o quadril e o joelho é maior.
Geralmente o paciente com condromalácia se queixa, sobretudo, de dor anterior no joelho. Porém, costuma haver outras queixas, como crepitação no joelho, derrame articular (inchaço), hipotrofia da coxa — que murcha e perde musculatura — e diminuição da mobilidade da patela. A sintomas costumam piorar em razão de atividades que aumentam o estresse sobre o compartimento femoropatelar: subir e descer escadas, agachar repetidas vezes, correr e ficar por muito tempo sentado (sinal do cinema).
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da condropatia patelar, dessa forma, começa com uma avaliação clínica bem feita, ou seja, com a realização de uma consistente anamnese e um exame clínico detalhado. Quando esse trabalho é bem feito, muitas vezes, já é possível fazer o diagnóstico. Porém, vale a pena se aprofundar. Com o recurso da ressonância magnética, é possível avaliar a profundidade da lesão condral e, a partir desses dados, fazer as classificações, que se dividem em quatro, baseadas na profundidade da lesão.
O tratamento quase sempre é conservador. A partir do exame físico bem feito, o paciente é indicado a um profissional de educação física ou fisioterapeuta que terá a missão de orientá-lo no fortalecimento ou no alongamento de grupos musculares que, mais robustos e funcionais, amenizarão a carga sobre o compartimento femoropatelar da articulação, reduzindo o estresse na cartilagem. Vale salientar que a cartilagem é um tecido com baixa capacidade de regeneração e, por isso, é importante reduzir-lhe o estresse.
Como recurso auxiliar, no tratamento, para reduzir as dores, é possível usar a viscossuplementação com ácido hialurônico. Porém, deve-se reforçar que esse é apenas um recurso auxiliar. Os outros pontos acima citados são os mais importantes no tratamento porque agem na causa e não cumprem apenas papel paliativo.
A cirurgia, nesses casos, só é recomendada excepcionalmente, quando, por alguma razão, o tratamento conservador falhou. Há estudos feitos por ortopedistas brasileiros, liderados pelo Dr. Moisés Cohen, sobre mosaicoplastia, técnica usada quando há uma única lesão na cartilagem femoropatelar, que mostram excelentes resultados. Na última semana, eu precisei realizar uma cirurgia dessa natureza que, felizmente, foi muito bem-sucedida. Contudo, mais uma vez, a cirurgia, quando se trata de condromalácia patelar, só é válida em casos excepcionais.
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