O Covid-19 tem impactado a vida de todos e comigo não tem sido diferente. Minha comunicação com o público, confesso, também tem passado por uma profunda reflexão nos últimos dias: o que dizer diante de todo esse cenário?
Sinto que tenho o dever de informá-los sobre o que tenho feito nesse período, mas não me agrada, por exemplo, a ideia de dizer como os outros devem se comportar e o que devem fazer. Embora eu seja médico, não sou infectologista e não me sinto à vontade para tratar de Covid-19 tecnicamente. Tenho lido muito a respeito, participo de fóruns médicos internacionais on-line que tratam do assunto, mas, mesmo assim, não acho que tais informações e o conhecimento técnico que tenho me credenciam a tratar deste tema com propriedade.
Tudo o que tenho recomendado a meus pacientes e meus familiares segue as recomendações do Ministério da Saúde e as práticas que tenho acompanhado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HFMCRP-USP).
Por isso, decidi, neste texto, falar sobre o que tenho feito para me adaptar a todas as mudanças provocadas pelo coronavírus no dia a dia dos meus pacientes e também no meu. Não tenho dúvida de que é um momento desafiador e que temos, dentro das nossas capacidades e habilidades, de tentar fazer o melhor para si e pelo próximo.
O que tenho feito
Como cirurgião de joelho, atendo em duas frentes: particular e saúde pública. Tenho um consultório particular em Ribeirão Preto (SP) e trabalho HCFMRP-USP. Embora esteja me dedicando com exclusividade, há 13 anos, à cirurgia do joelho, também sou especialista em trauma.
O que estou fazendo, então, neste período tão turbulento?
No consultório, estou atendendo apenas os casos urgentes, de pessoas operadas recentemente que demandam curativos, retirada de pontos etc. Tenho ido ao consultório apenas duas ou três vezes por semana, para atender quatro ou cinco casos por período, apenas casos estritamente necessários como os que citei. Nossa orientação para os pacientes, sobretudo aos idosos, é para evitarem ao máximo a ida ao consultório.
Porém, cientes das necessidades dos nossos pacientes, também busco, para a última semana de março, dar início aos teleatendimentos: atendimentos a distância. Estamos estudando as normas, entendendo o que se pode fazer e faremos, se tudo der certo, a partir do início da semana que vem.
No HC, nosso compromisso médico, nesse momento, é ainda mais desafiador. Por lá, suspendemos as cirurgias de joelho. Na parte ambulatorial da ortopedia, tivemos uma diminuição drástica dos atendimentos, para reduzir o contato desnecessário. Ontem, atendemos, 40 pessoas, em vez das habituais 200. Nesse contexto, contudo, não se pode esquecer dos casos de trauma, que costumam ter caráter de urgência e, por isso, merecem atenção especial.
Hora de fazer mais
No sábado à noite, em reunião com o professor-doutor Fabricio Fogagnolo, chefe do grupo de joelho e trauma do HC — e meu grande amigo, professor e colega de trabalho há anos —, reuniu-nos de forma on-line. Na oportunidade, deu-nos uma palestra sobre os riscos de contágio por Covid-19 aos profissionais da saúde, falou sobre os materiais de proteção que precisávamos usar e outros cuidados, bem como nos advertiu sobre outras orientações do Ministério da Saúde.
Também aproveitou para explicar qual era a situação em nosso departamento e revelou que tínhamos dois médicos da equipe ausentes, sob observação em razão de suspeita de infecção por coronavírus. Assim, precisávamos nos reorganizar para fazer os atendimentos da unidade de emergência. Acabei, então, voluntariando-me para ajudá-lo no trauma.
Ou seja, em razão do atual momento, retomo as atividades na área de trauma, depois de 13 anos, para ajudar a população em geral e meus colegas de profissão a resistirem, da melhor maneira possível, a um inimigo comum e invisível.
Parabéns. Muito orgulho de você.
Deus te abençoe.