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Educação continuada hoje e amanhã

As reuniões on-line suprem a necessidade de educação continuada em tempos de pandemia. Elas vieram para ficar e mudarão bastante o formato dos futuros eventos, mas não substituirão os encontros presenciais…

Desse período de pandemia, fica, desde já, uma constatação: o mundo médico-acadêmico ficou mais digital e, mesmo com a volta ao “normal”, estou certo de que “nada mais” será como antes, ao menos não quando se trata de educação continuada. Sem dúvida, o on-line foi essencial para que o ensino seguisse em ritmo forte e ele seguiu.

O mundo médico-acadêmico ficou mais digital e, mesmo com a volta ao “normal”, a educação continuada não será como antes.
O mundo médico-acadêmico ficou mais digital e, mesmo com a volta ao “normal”, a educação continuada não será como antes.

Entre cursos on-line e webinários, participei, como palestrante, de seis em dois meses até aqui, sem contar as bancas “digitais” de mestrado, cinco ao todo, e doutorado, uma. Sempre que falo de conhecimento em cirurgia do joelho gosto de envolver o grupo de estudo e trabalho do qual faço parte, composto também pelos professores-doutores (amigos) Maurício Kfuri e Fabricio Fogagnolo.

Juntos, estamos organizando, para agosto de 2021, mais uma edição do International Symposium of Knee Trauma — ISKT, que será presencial, mas pode, por que não, trazer elementos digitais, adaptando-se aos novos tempos. Aliás, muitas das aulas on-line que nós três temos ministrado, nesses tempos de isolamento, abordam temas que terão destaque durante o ISKT.

Dr. Fogagnolo conta que tem dado aulas on-line a alunos do 4º ao 6º ano em sua movimentada rotina digital.
Dr. Fogagnolo conta que tem dado aulas on-line a alunos do 4º ao 6º ano em sua movimentada rotina digital.

A EDUCAÇÃO CONTINUADA NA PANDEMIA

Kfuri, por exemplo, conta que, nos últimos dois meses, participou de cerca de dez eventos digitais. “Foram quase duas reuniões por semana a convite de sociedades, fundações, hospitais e grupos de ortopedia no Brasil e na América Latina. O ensino on-line é uma forma muito inteligente e apropriada de manter o contato e os projetos de educação continuada para que as pessoas sigam se atualizando, muitas vezes, sem qualquer custo.”

Dr. Fogagnolo, que é professor da FMRP-USP, conta que tem dado aulas on-line a alunos do 4º ao 6º ano. Sua rotina digital anda bastante movimentada. “Dei aulas em cursos da Associação Brasileira de Fisioterapia Traumato-Ortopédica (Abrafito), tenho aulas previstas pela AOTrauma para este mês. Também lecionarei para alunos do quarto ano de residência, num curso organizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ), quando apresentarei caso clínico.”

Só a primeira semana de junho já reuniu diversos eventos do nosso grupo. Professor Kfuri, ao lado do Dr. James Stannard, que também estará no ISKT 2021, lecionou em curso organizado pela AOTrauma Latin America. Professor Fogagnolo ministrou aulas em curso, organizado pelo braço médico da Johnson & Johnson, que chegou a ter audiência de 400 médicos e a participação de outros grandes nomes da cirurgia do joelho latino-americana. Na semana, ele também integrou a banca de um doutorado.

Palestrei em seis eventos on-lines em dois meses e estive em seis bancas “digitais” de mestrado e doutorado.
Palestrei em seis eventos on-lines em dois meses e estive em seis bancas “digitais” de mestrado e doutorado.

Uma semana antes, dei aula em curso organizado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em que tratei do tema “Luxação do Joelho”.

PERDAS E GANHOS COM O NOVO FORMATO

Não há dúvida de que os eventos on-line têm sido fundamentais neste momento, mas é justamente por sua essencialidade que notamos um efeito colateral: a saturação de oferta. “Em determinados horários, existem várias atividades simultâneas acontecendo, com vários professores renomados. Isso faz com que haja tantas opções que as pessoas não sabem para onde ir nem como aproveitar”, diz Dr. Kfuri.

Dr. Marcelo Tadashi, famoso ortopedista, cirurgião da mão, em Ribeirão Preto (SP), afirma que, dessa maneira, o aluno precisa abrir mão de uma delas. Ele também argumenta que o excesso de eventos pode cansar os alunos. “Há momentos que não se consegue mais manter a atenção”, completa Tadashi.

O boom de eventos on-line, sem dúvida, embora traga muitos benefícios, pode ser traiçoeiro também outro aspecto. “Com a possibilidade de se fazer eventos a custos baixíssimos, bons e maus eventos tendem a se misturar”, afirma Dr. Fogagnolo.

GRANDES INSTITUIÇÕES E PROFISSIONAIS

Por isso, é importante as pessoas estarem atentas para saber discernir entre os eventos que, de fato, promovem conhecimento e aqueles que têm finalidade meramente comercial ou promocional. O excesso de oferta tende a vulgarizar a ferramenta. Para que isso não aconteça, a meu ver, a chancela de qualidade passa pela instituição e pelos profissionais envolvidos.

Mesmo antes de haver esse boom de eventos on-line, muitas pessoas já procuravam, por exemplo, exercitar-se em casa por meio de dicas de blogueiros e aplicativos. Textos do Conselho Regional de Educação Física, desde 2017, alertam para os riscos que esse tipo de prática traz. “Não se trata de ser contra o avanço da tecnologia, mas de assegurar que a tecnologia trará consigo a segurança técnica de profissionais da área de saúde. É perfeitamente possível profissionais, de fato capazes, usarem as novas tecnologias para dar aula a distância”, explica o ex-atleta de futebol e profissional de educação física Christiano Ricci.

A TÃO NECESSÁRIA INTERATIVIDADE

“As atividades on-line serão focadas no know how [saber como] e as atividades presenciais centrarão foco no show how [mostrar como]: aplicação do conceito e demonstração de que o domina”, completa Kfuri.
“As atividades on-line serão focadas no know how e as atividades presenciais centrarão foco no show how”, Dr. Maurício Kfuri.

Outro ponto a observar, é que essas atividades têm sido gravadas e disponibilizadas de maneira gratuita no YouTube, o que é ótimo por um lado. “Porém, isso faz com que muitos não se interessem pela participação ao vivo, deixando para assistir num outro momento, com maior disponibilidade de horário. A participação, ao vivo, é muito interessante nas atividades em que há interação, como discussão de casos. Ou seja, a aula gravada é vantajosa para atividades de caráter teórico e conceitual, mas, para atividades interativas, não é”, explica Dr. Kfuri.

O fato é que, com todos os méritos e qualidades que tornam os eventos on-line uma realidade para o presente e o futuro, eles não substituem as atividades presenciais, que trazem, consigo, um ingrediente insubstituível: “A conexão com pessoas novas, o estabelecimento de novos laços de amizades e relacionamentos profissionais. Isso é muito mais possível presencialmente.”

DIFERENTES PROPOSTAS DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

Em síntese, as reuniões on-line suprem a necessidade de educação continuada em tempos em que a educação presencial não é possível.

Repito, as atividades on-line vieram para ficar e mudarão bastante o formato dos futuros eventos. Os presenciais deverão ser aqueles que envolvem, fundamentalmente, atividades práticas e de desempenho (interativas), nas quais os alunos tenham que, não apenas aprender determinada habilidade, mas também demonstrar que aprendeu.

“As atividades on-line serão focadas no know how [saber como] e as atividades presenciais centrarão foco no show how [mostrar como]: aplicação do conceito e demonstração de que o domina”, completa Kfuri.

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2 Comentários

  1. Rafael Xavier de Camargo Jr.

    Parabéns
    O papel da Universidade e transmitir conhecimento e integrar a comunidade com oportunidade para todos se reciclarem.
    Obrigado a todos

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  2. Marilívia Machado

    Excelente texto! Cabe a nós agora filtrar tamanha oferta, mas usufruir dos benefícios, tem muita coisa boa rolando por aqui também!

    Responder

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