Dei uma aula sobre tratamento de fratura periprotética recentemente e, apesar de ter estudado muito para oferecer aos alunos as referências mais atuais, minha formação e residência no Grupo de Cirurgia do Joelho e Trauma Ortopédico do Hospital das Clínicas da (FMRP) seguem sendo as fontes de conhecimento mais importantes de que disponho
Para os cirurgiões do joelho, o ensinamento de técnicas de tratamento de traumas traz muitas vantagens e, no Grupo de Cirurgia do Joelho e Trauma Ortopédico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), que há décadas está associado à AO Trauma Foundation, a formação envolve, impreterivelmente, o aprendizado dessas técnicas.
Sempre que posso agradeço o saudoso professor Cleber Pacolla por ter realizado a aliança entre FMRP e AO, permitindo-nos aprender as melhores técnicas de tratamento de traumas. Seus discípulos, nos quais se incluem os professores Maurício Kfuri, Fabricio Fogagnolo e eu, têm dado continuidade ao ensinamento desse conhecimento.
Na noite do dia 18 de outubro, tive a satisfação de transmitir um pouco desse conhecimento. A convite do Dr. Juliano Voltarelli, da Ortocity — a quem pude acompanhar em seu período de residência e com quem pude compartilhar momentos de glória no futsal —, dei uma aula online sobre fraturas periprotéticas, lesão que tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, está associada ao uso de próteses, é grave e os tratamentos cirúrgicos costumam ser altamente desafiadores para o médico.
Fratura periprotética: cada vez mais comum
Vale ponderar que o aumento no número de fraturas periprotéticas está associado ao crescimento no número de pessoas que passam por artroplastia — só nos EUA são 300 mil ao ano —, procedimento que consiste na colocação de próteses, cuja vida útil costuma ser de 15 anos. Com cada vez mais artroplastias, mais funcionalidade e saúde para a articulação, sobretudo, dos idosos, tem-se, como consequência, mais casos de fraturas periprotéticas.
A dificuldade imposta por esses casos ao cirurgião do joelho não é pouca e, para que esteja apto a realizar o procedimento, é recomendado que o profissional seja especializado em cirurgias de trauma e artroplastia, dominando inúmeras técnicas altamente complexas: para fixação, uso de implantes, revisão de próteses e reconstruções ligamentares. Isso implica ser capaz de trabalhar com uma ampla variedade de instrumentos, o que os formados pelo grupo de joelho e trauma do HC da FMRP aprendem, graças ao trabalho de pioneiros como o Dr. Pacolla.
Geralmente, o osso mais acometido por esse tipo de fratura é o fêmur — embora também possa acontecer na patela e na tíbia — e o grupo mais vulnerável é, por razões naturais, o dos idosos, cujos ossos costumam ser mais frágeis e poróticos. Pacientes com distúrbios neurológicos e que sofrem quedas frequentemente também fazem parte do grupo de pessoas mais exposto a esse tipo de lesão.
O tratamento para esse tipo de caso depende de vários fatores: se a prótese está estável, fixada, do nível de desvio da fratura, do grau de osteoporose e, claro, das condições clínicas do paciente. Tantas variáveis justificam as exigências em relação à capacitação do médico, até porque, raramente, a melhor opção de tratamento, para esses casos, é não cirúrgica. Como os resultados são menos eficazes do que os obtidos pelo tratamento cirúrgico, apenas quando a condição clínica do paciente inviabiliza a cirurgia, o tratamento conservador — feito com gesso, órtese articulada, imobilizador de joelho etc. — é recomendado
Nos casos cirúrgicos, quando se trata apenas de fixar a fratura, normalmente, o médico usa placa ou haste intramedular. Quando a prótese solta também, é preciso trocá-la, ou seja, além da fixação da fratura, deve-se fazer uma cirurgia de revisão de prótese.
A fratura quando ocorre no quadril
Na aula, falei ainda sobre a fratura periprotética envolvendo ossos do quadril, o que também cresce bastante e pelas mesmas razões que já apresentei em relação ao joelho. Li inúmeros artigos científicos a respeito para realizar a aula e contei com os ensinamentos do Dr. Arthur Sugo, cirurgião de quadril, meu colega de classe nos tempos de faculdade e, hoje, de sala de cirurgia. Em praticamente todas as minhas cirurgias, em razão da relação incidental que existe entre joelho e quadril, conto com a companhia do Dr. Sugo. Da mesma maneira, é muito comum que, nas cirurgias que ele realiza, eu esteja junto, prestando-lhe assistência.
Entre os fatores de risco para a fratura periprotética no quadril estão: ser mulher, ter artrite reumatoide e já ter feito cirurgia de revisão de prótese de quadril. Nos casos em que já foi feita uma revisão de prótese de quadril, recomenda-se um acompanhamento permanente do paciente para tentar minimizar os riscos de fratura. O tratamento conservador é bastante raro no quadril e pode trazer complicações clínicas e ortopédicas para o cliente. No caso cirúrgico, basicamente, faz-se fixação da fratura quando a prótese está estável e, quando ela está solta, faz-se também a revisão da artroplastia — o mesmo que no caso do joelho. Dos ossos do quadril, o mais acometido pela fratura é também o fêmur. Não é comum que a lesão seja no acetábulo na parte da pelve.
Além desses conhecimentos gerais sobre a lesão, tanto no joelho como no quadril, pude apresentar um caso cirúrgico bastante complexo realizado pelo professor Fabricio Fogagnolo, que é o chefe do grupo de Cirurgia do Joelho e Trauma Ortopédico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP). Ele me autorizou a apresentar o caso, que é recente e foi uma cirurgia bem-sucedida.
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