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Fundação AO: a base de uma escola médica que é referência

O grupo de cirurgia de joelho e trauma da FMRP, há algumas décadas, é referência das técnicas da Fundação AO. Essa condição permitiu que a faculdade recebesse estudantes de todo o Brasil e do mundo. Saiba como tudo começou, pelas mãos de quem e por que me orgulho tanto de fazer parte dessa história.

Já registrei algumas vezes aqui a minha gratidão por meus professores, mas nunca contei qual é a relação dessa minha gratidão com uma organização de ensino médico internacional e cuja importância é enorme para mim e para muitos outros militantes da medicina em todo o mundo. Estou falando da Fundação AO.

Há algum tempo, desejava trazer explicar melhor essa história e não haveria pessoa com maior autoridade para falar do tema do que o meu professor Maurício Kfuri, que sabe, como poucos, do valor da Fundação AO na história dos médicos ortopedistas especializados em joelho formados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

Da esquerda para a direita, os Drs. Fabricio Fogagnolo, Jurgen Stadler, Cleber Pacolla e Mauricio Kfuri operando e usando técnicas AO.
Da esquerda para a direita, os doutores Fabricio Fogagnolo, Jurgen Stadler, Cleber Pacolla e Mauricio Kfuri operando e usando técnicas AO.

“A Fundação AO foi criada na Suíça no ano de 1958. Até aquela época, o tratamento cirúrgico de fraturas era associado a um alto índice de complicações, pela falta de padronização de implantes e técnicas. A Fundação AO se comprometeu com pesquisa voltada à compreensão dos métodos de consolidação ou união óssea. Também pesquisou quais seriam os fatores para influenciar os bons resultados do tratamento de fraturas. A missão da Fundação sempre foi melhorar a qualidade do tratamento de fraturas.”

As palavras de Kfuri dão a dimensão histórica desta fundação e sua importância transformadora para ortopedia. “O professor Cleber Pacolla, que por muito chefiou a Cirurgia de Joelho e Trauma Ortopédico do HC da FMRP-USP, foi um dos pioneiros das técnicas e do ensino AO na América Latina. No final de 1970, ele teve parte do seu treinamento realizado na Faculdade de Medicina de Hannover, que, na época, era um dos principais centros de trauma ortopédico do mundo.”

Kfuri conta que, ao retornar para o Brasil, Dr. Pacolla desenvolveu, em Ribeirão, o ensino e a pesquisa nas técnicas AO. “O grupo de cirurgia do joelho e trauma da FMRP passou a ser uma referência das técnicas AO. No ano de 1998, professor Pacolla firmou contrato de colaboração científica com a Fundação, o que permitiu que a FMRP recebesse estagiários de todo o Brasil e do mundo para aprender técnicas de fixação de fraturas com eficácia comprovada.”

 Da esquerda para a direita: Drs. Kfuri e Pacolla em aula de técnicas AO. O grupo de cirurgia do joelho e trauma da FMRP passou a ser uma referência das técnicas da Fundação AO.
Da esquerda para a direita: os doutores Kfuri e Pacolla dando aula. A partir da década de 1970, o grupo de cirurgia do joelho e trauma da FMRP passou a ser uma referência das técnicas da Fundação AO.

Professor Pacolla tinha um interesse muito grande em cirurgia do joelho e, por isso, criou um grupo de estudo sobre o tratamento das lesões do joelho e dos traumatismos das lesões das extremidades inferiores. Dr. Kfuri conta que todos os fellows e residentes formados pelo professor Pacolla levaram consigo o interesse de enxergar o joelho como um órgão e de oferecer à articulação várias opções de tratamento.

“No ano de 2008, tive a oportunidade de, ao lado dele, lançar um novo currículo para cirurgia do joelho voltado ao tratamento do trauma da articulação. Passamos a realizar simpósios internacionais em Ribeirão Preto, que reuniram centenas de médicos de todos os lugares do mundo. Foi um enorme privilégio trabalhar com professor Pacolla durante 20 anos. Por isso, tive uma relação estreita com a Fundação AO, o que me permitiu viajar por mais de 40 países do mundo difundido seu ensino. Nesses últimos anos, pude ser o líder da Fundação para a América Latina; experiência que me possibilitou conviver com cirurgiões de todo a região. Pude aprender e compartilhar muito conhecimento.”

Professor Fabricio Fogagnolo, à esquerda, e eu. Ambos nos formamos na FMRP e com base nas técnicas AO.
Professor Fabricio Fogagnolo, à esquerda, e eu. Ambos nos formamos na FMRP e com base nas técnicas AO.

Professor Kfuri foi meu professor e o orientador do meu doutorado. Tive o prazer de aprender com ele e com o próprio professor Pacolla. Quando Kfuri fala de residentes e fellows que se “criaram” a partir do conhecimento AO, eu sou um deles. “Rodrigo Salim é um profissional de enorme talento dedicado ao tratamento de lesões complexas e cirurgias do joelho com o qual tenho trabalhado e convivido há muitos anos. Compartilhamos a missão do ‘ensino do joelho’ como uma articulação complexa e com múltiplas funções. Assim como eu, ele se formou sob os princípios AO e sob a visão exclusiva desenvolvida pelo Dr. Cleber Pacolla.”

À esquerda, Dr. Paulo Araujo, mais um cirurgião de joelho de destaque formado nas técnicas da Fundação AO pela FMRP, Dr. Kfuri ao centro e eu.
À esquerda, Dr. Paulo Araujo, mais um cirurgião de joelho de destaque formado nas técnicas da Fundação AO pela FMRP. Ao centro, Dr. Kfuri

Acho importante registrar que, até hoje, dedico dois quintos da minha atividade profissional ao HC e ao grupo de joelho e trauma da FMRP-USP. Sou infinitamente grato a esse legado deixado pelo professor Pacolla, que segue vivíssimos pelas mãos do professor Kfuri e também por meio do professor Fabricio Fogagnolo. Esse grupo e toda a sua história é a minha raíz e é da raíz que extraímos o nutriente que nos permite crescer. Sinto que, se me afastar desse grupo e dos princípios que norteiam a nossa obtenção de conhecimento, perderei essa conexão com a minha principal fonte de inspiração.

Por isso, apesar de todas as limitações do setor público, eu vou ao HC, com toda a felicidade do mundo, e faço o meu melhor para auxiliar e aprender com o professor Fabrício, que chefia esse grupo hoje e com quem sigo aprendendo todos os dias.

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