Ontem (8) pela manhã, meu caçula, Vítor, sugeriu que descêssemos escorregando um gramado bastante íngreme e eu respondi que não tinha coragem. Ele retrucou: “Como não, se o senhor enfrenta a Covid todos os dias no seu trabalho?”. Essa lição de coragem foi seu Jaime Salim, meu craque, meu pai, quem me ensinou.
A minha vida sempre esteve sob a influência de muitos “craques” e foi a partir das referências deles que percorri o caminho que me trouxe até aqui. Porém, de todos os craques que me inspiraram, meu pai foi, sem dúvida, o maior deles.
Ele morreu quando eu tinha 13 anos. Estou com 42. São 29 anos sem ele por perto fisicamente, mas todos os passos que dou na vida é com respeito e o intuito de dignificar meu maior craque, Jaime Salim.
Não vou colocar a foto dele aqui. Não sei se ele, um cara reservado, concordaria com essa exposição, mas vou colocar uma imagem que se aproxime do sentimento que eu nutro por ele, uma imagem capaz de traduzir, ao menos um pouco — porque não acho que seja possível fazê-lo por inteiro —, todo o valor e grandiosidade que há na relação pai e filho.
Eu sou pai, mas, antes, sou filho.
Embora tenha perdido meu pai aos 13, em tudo o que fiz ao longo desses 29 anos de ausência, em todas as decisões importantes que precisei tomar, meu pai (e também minha mãe) estava comigo em pensamento. Sempre penso o que ele acharia e que decisão tomaria se estivesse em meu lugar.
Sinceramente, não sei se é assim com todos vocês, mas é assim comigo e eu não quero que mude. Ele é parte protagonista das minhas realizações e um ombro irrecusável nos meus fracassos e decepções. Meu pai é o exemplo impecável, é o que procuro ser a cada dia.
Eu vejo muitos amigos sofrendo, com dificuldade de conciliar o convívio com os filhos e a necessidade de trabalhar. Considero que estejam confundindo quantidade com qualidade, abrindo mão de suas carreiras, da realização profissional e do valor exemplar que há por trás dessa conquista.
Francamente, não vejo por que esse conflito deve existir. Os filhos não precisam dos pais o tempo todo, precisam deles por inteiro, é diferente. Os filhos precisam dos pais por inteiro no trabalho, como exemplo de entrega à realização de seus próprios sonhos, para que os filhos tenham coragem de fazer o mesmo quando crescerem. Os filhos precisam do pai por inteiro quando estiverem juntos, precisam de afeto de verdade, não de cada vez mais tempo.
Minha experiência me ensinou o valor da intensidade e do exemplo, mas conheço outras pessoas que tiveram pais muito ocupados e que nunca deixaram de tê-los como referência. É o caso da minha esposa, outra craque da minha vida, Adélia, cujo pai, delegado de polícia, tinha pouco tempo para ela, mas nunca teve pouco amor e, assim, deixou um legado de afeto insubstituível.
Não é a quantidade de tempo com seu filho que lhe fará inesquecível… Ontem (8) pela manhã, meu caçula, Vítor, sugeriu que descêssemos escorregando um gramado bastante íngreme e eu respondi que não tinha coragem. Ele retrucou: “Como não, se o senhor enfrenta a Covid todos os dias no seu trabalho?”.
Essa lição de coragem foi seu Jaime Salim, meu craque, quem me ensinou.
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