Passar por uma artroplastia de joelho, para superar uma artrose, não é simples, mas, para o biólogo e professor universitário aposentado, Ivã Haro Moreno, a insegurança e o receio natural em relação à cirurgia não eram maiores do que suas dores e limitações. “Em setembro de 2018, fui para a cirurgia muito confiante e ciente de que era a melhor escolha”. Alguns meses depois, ele estava em uma trilha, no Parque Estadual do Jalapão, sem sequer se lembrar da cirurgia que havia feito.
O professor universitário e doutor em Biologia, Ivã Haro Moreno, hoje tem 63 anos e está aposentado, mas se lembra bem de quando os problemas no joelho começaram a fazer parte de sua vida, há mais de quatro décadas, bem antes de ter de passar por uma artroplastia.
“Eu ainda estava na universidade. Jogava bola, quando, num lance, machuquei o joelho direito. Senti que não era uma lesão qualquer, mas, na época, não tinha condições de buscar tratamento apropriado. Deixei para lá, na esperança de que o tempo curasse”, explica Ivã que, até pouco tempo, lecionava na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
O professor conta que, depois de alguns meses da lesão, desfrutando do vigor da juventude à época, pensou que, só com o passar do tempo, houvesse se recuperado o suficiente para levar uma vida “normal”. Afinal, as dores e os incômodos tinham diminuído bastante. “Logo voltei a jogar bola e fazer, na época, grandes caminhadas. Notei, porém, que, em alguns momentos, o joelho saía do lugar e travava, mas, ainda assim, eu conseguia ter uma vida que julgava ser ‘normal’.”
Toda lesão tem história, mas os problemas que nos levam a ter de passar por uma artroplastia costumam ser fruto de um processo prolongado, com duração de décadas. O ortopedista Rodrigo Salim explica que quando o paciente se adapta à lesão em vez de curá-la efetivamente, os resultados, a longo prazo, são mais dolorosos.
“A articulação tem um desgaste natural ao longo do tempo, mas, lesões não tratadas reduzem o prazo do seu bom funcionamento natural. A manifestação mais evidente do desgaste do joelho é a artrose, cujas chances de incidência precoce aumentam muito em casos de lesões mal curadas e com as quais as pessoas convivem por um longo período.”
Sob a companhia de um LCA rompido
No ano de 1990, por volta de 15 anos depois da lesão que havia sofrido jogando bola, Ivã decidiu, em razão das dores e do aumento da instabilidade no joelho, procurar um ortopedista em Brasília, cidade na qual residia na época. “Depois da realização dos exames e da consulta com o médico, chegou-se à conclusão que eu deveria fazer uma artroscopia.”
Pouco tempo depois, professor Ivã Haro dava entrada no Hospital Sarah Kubitschek para ser submetido à cirurgia. A ideia era limpar o joelho, que tinha fragmentos de tecido cartilaginoso (menisco), o que tinha relação com as dores que o biólogo sentia. Porém, durante a cirurgia, os médicos descobriram que meu LCA estava rompido.”
Depois da artroscopia, os médicos informaram Ivã de que ele precisaria passar por uma nova cirurgia, mais complexa, para reconstruir o LCA. “Mas, àquela altura, como já havia desistido de jogar futebol, por causa do incômodo crescente em razão das dores no joelho, e, por outro lado, por não sentir dores durante as caminhadas que fazia periodicamente, sobretudo depois da artroscopia, não quis fazer a reconstrução do LCA.”
Professor Ivã, então, tocou a vida sem grandes contratempos nem incômodos até 2014 ou 2015, não se recorda com precisão. Nessa época, ele começou a sentir dores severas durante as caminhadas e o joelho passou a travar com mais frequência, mesmo em atividades corriqueiras e simples. Daí em diante, as limitações foram aumentando intensa e rapidamente, levando-o, cada vez mais, a uma situação insustentável e insuportável.
“Atividades que sempre foram simples, tornaram-se difíceis de realizar. Por exemplo, não aguentava ficar de pé por muito tempo. Na época, ainda dava aulas, mas passei a ter grandes dificuldades para fazer o que havia feito a vida toda. O fato é que eu sentia muita dor quase 24 horas por dia.”
O encontro com Salim
Foi nesse período, quando não havia saída senão buscar ajuda profissional especializada, que o nome de Salim apareceu na lista de Ivã Haro. “Meu filho também é ortopedista. Fez graduação em Medicina, residência em Ortopedia e, atualmente, Especialização em mãos, tudo na USP de Ribeirão Preto, onde conheceu Rodrigo. Sabendo da competência do amigo, meu filho me pediu que eu o procurasse.”
Rodrigo Salim submeteu Ivã a todos os exames necessário e logo diagnosticou o LCA do joelho direito rompido, uma degeneração do menisco, num quadro de artrose, e queixas mecânicas por parte do paciente. Salim, então, optou por uma artroscopia com meniscectomia (a retirada de um pequeno pedaço do menisco). “A opção pela artroscopia por causa da queixa de limitações mecânicas. Em casos como o de Ivã, a artroscopia só é recomendada nessas circunstâncias e para tratar essas limitações. Para tratar a artrose, especificamente, a artroscopia não é recomendável, a não ser para tratar casos de bloqueios mecânicos.”
A ideia de Salim era dar sobrevida ao joelho de Ivã Haro. Para isso, também lançou mão de viscossuplementação no joelho — infiltração de ácido hialurônico —, cuja finalidade é lubrificar o joelho, reduzir o processo inflamatório, estimular a produção natural de ácido hialurônico, de células cartilaginosas e de colágeno, melhorar a viscosidade do fluido sinovial, estancar a degradação da cartilagem e proporcionar analgesia (redução das dores) por um período mais longo.
“A ideia é sempre preservar a articulação natural e adiar, ao máximo, a colocação de uma prótese. Quanto mais tempo o joelho for capaz de funcionar bem e sem dores, melhor”, explica Salim. Por um tempo, as técnicas usadas tiveram êxito, mas, depois, deixaram de ter o efeito desejado e professor Ivã não conseguia mais conviver com as dores e as limitações. Salim decidiu, então, que era a hora de fazer a artroplastia total do joelho direito.
Para vencer a artrose
“Fazer uma cirurgia dessas não é simples, mas a insegurança e o receio natural em relação a ela, não eram maiores do que minhas dores e limitações. Além disso, a confiança que tenho em Salim não me deixava dúvidas. Fui para a mesa de cirurgia muito confiante e ciente de que era a melhor escolha.”
Ivã Haro passou pela artroplastia no dia 1º de setembro de 2018. “O pós-operatório me surpreendeu positivamente. Tive bem menos limitações e contratempos do que imaginava. Nem parecia que havia ‘trocado o joelho’. Não precisei ficar engessado, por exemplo. Salim me falou que, num primeiro momento, eu teria um pouco de dor e insegurança, mas, com uma boa reabilitação, superaria logo essa fase. Disse que tudo dependeria da minha dedicação à fisioterapia.”
Poucos dias depois do procedimento, Ivã já estava andando de adandor. “Salim me dizia que eu precisava ficar o mínimo possível com o andador. Enfatizava a necessidade de desenvolver a articulação o quanto antes. Ainda no hospital, depois da cirurgia, recebi atendimento fisioterápico. Lembro que a fisioterapeuta insistia para que eu mexesse a perna o quanto antes. Fui muito bem orientado.”
O professor aposentado diz que, quatro meses depois do procedimento, já se sentia como há um bom tempo não era capaz de se sentir. “Não tinha mais dores. Conseguia caminhar normalmente. Nessa época, comecei a fazer pilates, com o propósito de avançar a minha recuperação a outro nível. Nas consultas que tinha com Rodrigo, ele elogiava a minha reabilitação. O fato é que tudo aconteceu exatamente como ele havia programado.”
Sem artrose, vida nova a Ivã
Professor Ivã conta que um dos maiores ganhos que teve depois da artroplastia foi de ordem emocional. “É complicado demais lidar com a dor e ela nos mina a autoestima, ainda mais quando acompanhada de limitações graves. A partir do momento que eu resgato uma condição de vida sem dores e com bem menos limitações, muda tudo. Mesmo no processo de reabilitação, apesar das dores intrínsecas, a confiança que eu tinha no Rodrigo me tranquilizava e eu sabia que apenas tinha de seguir trabalhando.”
Segundo o professor, depois do que viveu antes da cirurgia — dores e joelho travado —, não imaginava que pudesse voltar a desfrutar da condição de que passou a desfrutar. “Em julho, fui para o Parque Estadual do Jalapão, em Tocantins, onde fiz muitas trilhas. Eu costumo dizer que foi o batismo de fogo do meu joelho: caminhei em terrenos irregulares, passei por riachos com fundos pedregosos, caminhei por trilhas de pedras e, confesso que, no meio da viagem, esqueci que havia feito uma artroplastia.”
O fato é que, depois da reabilitação, Rodrigo liberou Ivã para exercitar-se, mas sem abusos. “Eu evito até correr, porque o impacto da corrida desgasta mais a prótese, porém, faço bicicleta, uma hora diária de esteira sem corrida, mas numa caminhada acelerada, e musculação para me manter preparado… Não há dúvida de que desfruto dessa nova condição, que transformei meus hábitos e me tornei muito mais saudável, graças ao excelente trabalho do Rodrigo que, além de um excelente médico, é um baita amigo.”
0 comentários