A reconstrução do LCA costuma preservar toda a funcionalidade do joelho e garantir que o atleta siga normalmente sua carreira. Mas, ainda assim, é preciso cuidado. A história de Carlos Eduardo, atacante brasileiro do Al Hilal, time saudita, mostra porque quem se cuida segue brilhando, mesmo após uma cirurgia como essa
“Eu lesionei na final da Liga dos Campeões da Ásia, em 2017, aos cinco minutos de jogo. Entrei numa bola e meu pé ficou preso no chão. Então, rompi o ligamento [cruzado anterior — LCA], embora ainda não soubesse que essa era a lesão. Voltei para o jogo, joguei por mais três minutos, mas saí: ficou claro que algo mais sério havia acontecido.” A história de Carlos Eduardo, atacante do Al Hilal, time da Arábia Saudita que, no último Mundial de Clubes, ficou em terceiro lugar, é mais comum do que se deseja no futebol.
Estudo feito com jogadores da Bundesliga — liga alemã de futebol —, ao longo de oito temporadas, revelou que, em média, nove jogadores lesionam o LCA a cada temporada. “É importante ter em mente que estamos falando de atletas muito bem assistidos do ponto de vista médico. Esse trabalho preventivo, inclusive, rendeu, ao longo das oito temporadas abarcadas pelo estudo, a redução de lesões em ligamentos colaterais, por exemplo. Mas não se viu o mesmo resultado para as rupturas de LCA”, explica Dr. Rodrigo Salim.
Outro trabalho interessante, realizado de 2001 a 2015, mostra que as rupturas totais de ligamento são mais frequentes que as parciais entre atletas profissionais de futebol. Também são mais comuns nos jogos que nos treinos e a idade média dos lesionados, a exemplo do estudo alemão, é de 24 anos. Na imensa maioria dos casos, o tratamento é cirúrgico. O tempo de retorno, em média, é de seis meses aos treinos e de oito, aos jogos.
“A pesquisa também constatou que 7% dos atletas lesionados, durante a reabilitação, tiveram complicações: lesionaram o enxerto, o menisco ou algum músculo. Em alguns casos, foi necessário novo tratamento cirúrgico. Dos que retornaram ao futebol, 65% recuperaram o nível técnico anterior ao da lesão. 15%, que tinham a mesma idade dos 65% que se recuperaram, encerraram a carreira pouco depois da lesão.”
A consciência de Carlos Eduardo
“Logo depois da lesão, vim para o Brasil e me submeti à cirurgia de reconstrução. Logo em seguida, iniciei a reabilitação, que correu muito bem. Fazia fisioterapia todos os dias e, cinco meses e meio depois da cirurgia, voltei a treinar com o grupo, sem forçar muito; com oito meses, fiz minha primeira partida oficial”, diz Carlos Eduardo.
O fato de sempre se cuidar contribuiu para a sua recuperação. “Quando me lesionei, fazia prevenção com um fisioterapeuta e faço até hoje, independentemente do trabalho no clube.” Embora esteja na “ponta dos cascos”, Carlos Eduardo procurou Dr. Salim no início deste ano, justamente para aprimorar os trabalhos preventivos e ficar ainda menos suscetível ao imponderável que acompanha toda a atividade, ainda mais as esportivas.
“Toda a reconstrução de LCA traz consigo uma chance real de rerruptura do enxerto ou lesão do joelho contralateral, como os estudos atestam. Por isso, cuidado e atenção são essenciais para assegurar que uma cirurgia de LCA logrará êxito por um longo período, quiçá e de preferência, por toda a vida. Carlos Eduardo faz o que todos os atletas deveriam fazer para ter a vida profissional alongada e seguir jogando em altíssimo nível”, diz Salim.
“Eu sempre me cuidei muito: alimentação, preparação física etc. Tanto que minha lesão foi traumática, não foi uma lesão por falta de condição física ou algo do gênero. No fim de 2019, já recuperado, tive o prazer de jogar o Mundial de Clubes da FIFA, no qual ficamos em terceiro lugar [a performance de Carlos Eduardo foi bastante elogiado pela imprensa]. Esse desempenho, alcançado logo depois de conquistarmos a Liga dos Campeões da Ásia, mostra que a reabilitação foi bem feita e que me permitiu voltar a jogar entre os melhores.”
Carlos Eduardo tem 30 anos e, em outubro, fará 31. “Acredito que possa jogar por mais quatro ou cinco anos em alto nível. Meu plano é seguir jogando no mundo árabe. Me adaptei bem e é aqui que pretendo encerrar a minha carreira.”
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