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Trombose e embolia: riscos e cuidados na cirurgia do joelho

Você sabe o que é trombose e embolia pulmonar? Sabe o que isso tem a ver com cirurgia do joelho? O professor da cadeira de Cirurgia Vascular e Endovascular do departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP, Dr. Edwaldo Edner Joviliano, esclarece essas e outras dúvidas nesta entrevista.

Não é de hoje que a noção de vida ganha concretude por meio da palavra e da imagem do pulso, do coração e do sangue. Mais do que uma manifestação fisiológica, as batidas do coração são símbolo de vida e, por isso, a vida de um cirurgião vascular, ainda mais do que a de qualquer outro médico, é assegurar que nunca falte vida.

Poucos sabem, mas, em todos os procedimentos cirúrgicos, a figura do cirurgião vascular está presente para assegurar que nenhum contratempo venoso ou arterial atrapalhe o propósito do outro médico cirurgião. É assim também em boa parte das cirurgias do joelho.
Para falar sobre os cuidados cardiovasculares associados a cirurgias do joelho, trouxemos o amigo do Dr. Rodrigo Salim, o professor da cadeira de Cirurgia Vascular e Endovascular do departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP, Edwaldo Edner Joviliano.

Em 2008, depois de dez anos de atuação na rede privada e de fazer pós-graduação, mestrado e doutorado, o cirurgião vascular Edwaldo entrou para a carreira acadêmica e, 12 anos, é professor-chefe do Hospital das Clínicas da FMRP-USP.
Em 2008, depois de dez anos de atuação na rede privada e de fazer pós-graduação, mestrado e doutorado, Edwaldo entrou para a carreira acadêmica e, 12 anos, é professor-chefe do Hospital das Clínicas da FMRP-USP.

“Minha carreira profissional começa na faculdade [FMRP-USP], em 1989, em meu primeiro ano de Medicina. Durante o curso, sempre me senti atraído pela área cardiovascular. A dúvida era sobre a especialização: se seria cardiologia clínica ou cirúrgica. No fim, eu me interessei por cirurgia vascular e endovascular e segui em frente”, explica Edwaldo.

Formado em 1994, o futuro doutor em cirurgia cardiovascular fez residência em cirurgia geral e depois em cirurgia vascular. “Terminei a residência em 1998. Então, iniciei a carreira profissional como cirurgião vascular. Trabalhei no setor privado até 2008. Nesse período de dez anos, fiz pós-graduação, mestrado, doutorado e, em 2008, entrei para a carreira acadêmica, na própria FMRP-USP. Desde 2008 também, sou professor-chefe do Hospital das Clínicas da FMRP-USP.”

Quais são os riscos cardiovasculares mais comuns associados à cirurgia do joelho?

Os riscos mais comuns associados à cirurgia do joelho estão associados ao tamanho do trauma cirúrgico: quão maior a cirurgia, caso de uma artroplastia total, maior o risco de lesão dos vasos sanguíneos, tanto das artérias quanto das veias. No caso das artérias, existe o risco de trombose ou lesão e, no das veias, também há o risco de trombose venosa, que, sem dúvida, das complicações, é a mais séria e, no caso da cirurgia do joelho. A trombose venosa é a complicação cardiovascular mais comum na cirurgia do joelho.

Explica melhor o que é trombose, suas diferentes formas, e o que é embolismo?

A trombose é a formação de coágulos dentro de vasos sanguíneos. Quando acontece nas artérias da perna, se não houver tratamento apropriado, o principal risco é o de amputação do membro. A artéria é responsável pela irrigação da perna, ela traz o sangue do coração, que vem com o oxigênio. Quando ocorre a trombose na perna, esse sangue com oxigênio não consegue passar e não irriga a perna, trazendo complicações como a necrose. Já a trombose venosa, que é a mais comum, acontece na veia. O mais comum é causar dor, inflamação e inchaço. O tratamento, geralmente, consiste no uso de anticoagulantes, que permitem a dissolução do coágulo e trazem, por consequência, a melhora clínica. A principal complicação da trombose venosa é a embolia.

E o que é embolismo?

O embolismo é o fenômeno em que um tecido gorduroso, coágulo ou trombo sobe, pela corrente sanguínea, até outro lugar. O mais frequente é acontecer a embolia pulmonar, ou seja, esse trombo, gordura ou coágulo vai para o pulmão, porque o destino do sangue venoso é o pulmão, causando o que chamamos de embolia pulmonar e, consequentemente, dores taxáceas, falta de ar e, em casos extremos, até a morte.

Você citou a possibilidade de lesões vasculares durante o procedimento. Fale um pouco sobe essas lesões e sobre quais são cirurgias do joelho que demanda cuidado vascular especial.

A lesão de uma artéria, que é um caso mais grave, é possível, mas não é comum. Caso ocorra, o cirurgião do joelho aciona o cirurgião vascular para que seja feito o reparo o mais rapidamente possível. Quanto às cirurgias do joelho com maior potencial de complicação, podemos destacar a artroplastia total [substituição da articulação natural por uma prótese], retirada de tumores ósseos na região do joelho e fraturas complexas na região. Essas cirurgias que demandam atenção especial e o cirurgião vascular a postos.

Como funcionam as ações profiláticas (de prevenção) em relação à tromboembolismo?

As técnicas de profilaxia para a trombose, sobretudo em relação à artéria poplítea, baseiam-se, fundamentalmente, na utilização de anticoagulantes. Existem, ainda, técnicas de profilaxias mecânicas, com ação limitada, mas devem ser feitas e consistem em mobilização precoce [pós-cirúrgica] do paciente e fisioterapia. O fato é que a profilaxia, sobretudo a farmacológica, é fundamental e obrigatória, porque reduz significativamente a incidência de fenômenos trombóticos venosos. Para se ter ideia, o paciente que faz uma cirurgia de joelho complexa tem uma chance que varia entre 40% e 50% de trombose. Com o uso de profilaxia, esse percentual cai para menos de 5% de incidência. Ou seja, é fundamental. Outro ponto importante: todo o paciente deve ser submetido à avaliação de risco antes de ser submetido à cirurgia.

Qual é o público mais vulnerável ao tromboembolismo?

Os pacientes mais vulneráveis à incidência de tromboembolismo, principalmente o venoso, são os mais idosos, obesos, com histórico de linfedema, de edemas prévios, que já foram submetidos a cirurgia no local, que têm a movimentação limitada, que fazem uso de medicações, como terapia hormonal, e os que são submetidos a cirurgias mais complexas e demoradas. Sem contar pacientes que têm, associado ao problema do joelho, um quadro de câncer em tratamento. Esses também apresentam aumento de risco de trombose nas veias das pernas.

A medicina cardiovascular avança muito e os ganhos vão desde dispositivos para serem utilizados nos tratamentos intervencionistas das doenças cardiovasculares até a aplicação de novas moléculas anticoagulantes para o tratamento de trombose.
A medicina cardiovascular avança muito e os ganhos vão desde dispositivos para serem utilizados nos tratamentos intervencionistas das doenças cardiovasculares até a aplicação de novas moléculas anticoagulantes para o tratamento de trombose.

De modo geral, os avanços tecnológicos na medicina impressionam. Como tem sido, especificamente, na área cardiovascular?

A medicina cardiovascular avança muito e os ganhos vão desde dispositivos para serem utilizados nos tratamentos intervencionistas das doenças cardiovasculares, casos das válvulas cardíacas de implante percutâneo, as endopróteses vasculares e stents impregnados com medicamentos que reduzem as chances de complicações vasculares, assim como o desenvolvimento e aplicação de novas moléculas anticoagulantes para o tratamento de trombose. Há um forte avanço e ganho de eficiência nesses tratamentos. Novas pesquisas estão em andamento com propósitos preventivos e intervencionistas também, mas sempre com uma proposta menos invasiva, proporcionando maior qualidade de vida aos pacientes.

Que conselho médico você daria a seus colegas cirurgiões do joelho para que os procedimentos realizados por eles seja cada vez mais seguro?

A recomendação aos colegas cirurgiões do joelho é que sempre submetam seus pacientes à avaliação de risco ao tromboembolismo. Uma boa avaliação dará uma dimensão do risco do paciente e determinará a melhor forma de fazer a profilaxia, a melhor dosagem de anticoagulantes, por quanto tempo o paciente precisará usar o medicamento e fazer o trabalho profilático mecânico também. A avaliação de risco de trombose é absolutamente fundamental e obrigatória em toda a cirurgia de joelho.

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