A medicina me proporciona excelentes experiências de aprendizado técnico, mas também me proporciona conhecer pessoas que são muito mais que seus talentos profissionais, são grandes seres humanos
por Rodrigo Salim
Em 2016, eu viajaria ao 17º Congresso da European Society for Sports Traumatology, Knee Surgery and Arthroscopy (ESSKA Congress), realizado em Barcelona. Foi a primeira vez que participei do evento para nunca mais deixar de participar. Sem dúvida, um dos melhores congressos sobre cirurgia do joelho do mundo, rico em novidades e com altíssimo nível científico.
Na época, eu jogava futebol, toda segunda-feira, com um grupo de amigos aqui de Ribeirão Preto. Dois desses colegas de futebol poderiam me ajudar com dicas de turismo na capital catalã, porque já haviam jogado profissionalmente na Europa: Paulo Massaro, atacante, e o goleiro Julio Sergio. Ambos, hoje, são treinadores de futebol.
Não titubeei em lhes pedir ajuda e, por meio deles, cheguei a Fransérgio Ferreira, empresário de atletas de diferentes modalidades esportivas, incluindo futebol. Fransérgio tinha um escritório em Barcelona, já que um dos principais clientes de sua empresa era Daniel Alves, na época, jogador do Barcelona e ídolo incontestável da equipe. Entrei em contato com Fransérgio que, muito atencioso, disse-me que me procuraria na ocasião do Congresso da ESSKA, que seria realizado de 5 a 7 de maio de 2016.
Assim, foi. Embarquei para Barcelona, assisti ao Congresso e, logo depois, Fransérgio me ligou, convidando-me para assistir a um jogo do Barça no Camp Nou, estádio do Barcelona. Um jogo imperdível, um derby barcelonista entre Barça e Espanyol. Fiquei entusiasmado, claro. Para a minha surpresa, veio me buscar, no hotel, o motorista do próprio Dani Alves.
Eu intuía, mas não sabia o que me esperava. O fato é que seria um dia especial e marcante em minha vida… Assisti ao jogo junto com os convidados de Dani Alves e de outros jogadores — no Camp Nou, existem áreas, como se fossem camarotes, reservadas a convidados dos atletas. É para onde costumam ir os jogadores no pós-jogo. Ali, encontram seus familiares e amigos e depois vão embora.
Naquele espaço, encontrei Mazinho, campeão do mundo em 1994, com a Seleção Brasileira, craque do meu Palmeiras e pai do Rafinha, que, na época, jogava no Barcelona e que também pude conhecer nessa oportunidade. Encontrei Douglas, lateral-direito que havia jogado no São Paulo e estava no Barcelona. Esses encontros me encantaram tanto quanto o jogo: uma vitória maiúscula do Barça por 5 a 0, com gols de Messi, Neymar, Rafinha e dois do uruguaio Luiz Suárez.
Rafinha, filho do ídolo Mazinho, marcou um dos gols do Barça. Daniel Alves e eu , no Camp Nou, logo depois do jogo do Barça.
Contudo, o ponto alto, sem dúvida, foi no fim, quando tive a oportunidade de presenciar a generosidade carinhosa de Daniel Alves no camarote do Camp Nou. Javier, o motorista de Dani, havia me dito que um dos convidados dele, naquela noite, era um menino, cadeirante, com paralisia cerebral, que morava em Tenerife, a maior das Ilhas Canárias, território espanhol no meio do Oceano Atlântico. Ele estava acompanhado dos pais e sua ida ao Camp Nou tinha sido inteiramente custeada por Daniel.
Considero importante contar essa história, porque, no camarote, não havia imprensa e nunca li nem vi essa história contada em lugar nenhum… Assim que Dani Alves chegou ao camarote, cumprimentou sua esposa e, logo em seguida, dirigiu-se ao garoto e o abraçou como se fosse um velho e querido amigo, beijando-o carinhosamente.
A relação entre eles, pelo que entendi, não tinha começado há muito tempo; teve início quando Daniel ficou sabendo que o garoto, apesar de todas as dificuldades inatas de expressar emoção e se comunicar em virtude de suas limitações inatas, quando escutava ou assistia aos jogos do Barcelona, ao ouvir o nome de Daniel ser dito pelo narrador, reagia de forma entusiasmada, com nítido apreço pelo jogador. A história chegou a Daniel, que decidiu presentear o garoto e a família, todo mês, com a presença em uma partida do Barça no Camp Nou e, claro, com a sua própria companhia.
Assim, eu tive a oportunidade de ver aquele encontro, de ver também Neymar vir ao camarote de Dani e cumprimentar o garoto com o mesmo afeto… Acho bacana trazer esse registro, porque além de mostrar como a medicina me proporciona excelentes experiências de aprendizado técnico, como pude obter no Congresso, também me proporciona encontrar pessoas que são muito mais que seus talentos profissionais, são grandes seres humanos.
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