A aula partiu do princípio de que, nesses casos, o procedimento comum é realizar dois tratamentos cirúrgicos: primeiramente, a realização de uma osteotomia, correção do eixo da perna, e, na sequência, a realização de artroscopia, para casos que exigem reconstrução multiligamentar.
Durante todo o dia 14 e a manhã do dia 15 de junho, foi realizada a Jornada Regional SP da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ). Eu estive na cidade de São Paulo e tive a honra de ministrar uma aula sobre um tema bastante complexo e desafiador: cirurgia de reconstrução multiligamentar em pacientes com mau alinhamento da perna. Estou falando de tratamento cirúrgico para pacientes que tem o eixo da perna alterado, com joelho em varo (para fora) ou em valgo (para dentro), e sofreram múltiplas lesões ligamentares.
A aula partiu do princípio de que, nesses casos, o procedimento comum é realizar dois tratamentos cirúrgicos: primeiramente, a realização de uma osteotomia, correção do eixo da perna, e, na sequência, a realização de artroscopia, para reconstruir os ligamentos. Sabidamente, a reconstrução dos ligamentos sem a correção do eixo da perna resultará em novas lesões ligamentares ou em falha na própria cirurgia. Assim, a osteotomia é obrigatória. Então, a grande discussão, durante a aula, foi sobre o que é melhor: fazer a osteotomia e artroscopia numa só cirurgia ou fazer os dois procedimentos em momentos distintos?
Durante a preparação da aula, constatei que a literatura médica acerca desses casos é escassa, porque problemas dessa ordem ocorrem com pouca frequência. Ainda assim, além das experiências que tive no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e também no meu consultório, encontrei materiais científicos que defendem com propriedade tanto a realização dos dois procedimentos de uma só vez, quanto a realização deles em momentos distintos.
Eficácia comprovada em dose dupla para casos de reconstrução multiligamentar
Em minha pesquisa, uma grata surpresa, deparei-me com estudo desenvolvido por amigos médicos da USP de São Paulo (SP) — nossa coirmã —, publicado em 2018, em uma grande revista internacional. Eles demonstraram que a realização de ambos os procedimentos, osteotomia e artroscopia, em uma só cirurgia, revelou-se bem-sucedida. Os médicos viram que essa opção é recomendável para pacientes jovens que apresentam grande instabilidade no joelho, além, claro, de alteração no eixo da perna.
No entanto, outros autores preferem defender, de modo geral, a realização das cirurgias em momentos distintos. A principal razão é que, em aproximadamente 40% dos casos, quando a osteotomia é bem-feita, a reconstrução dos ligamentos torna-se prescindível. Ou seja, só com a osteotomia, resolve-se ambos os problemas.
Com esse percentual significativo, finalizei a minha aula mostrando três artigos publicados, em revistas nacionais e internacionais, pelo nosso grupo de cirurgiões do joelho de Ribeirão Preto, que tratam de técnicas relacionadas a osteotomia criadas pelo falecido Prof. Dr. Cleber Paccola, pelo Prof. Dr. Mauricio Kfuri Jr. e pelo Prof. Dr. Fabricio Fagagnolo com a finalidade de aumentar a eficiência da osteotomia.
Em uma aula sobre assunto tão restrito e escassa literatura mundial a respeito, a oportunidade de mostrar três artigos do grupo de que faço parte, ligado à USP de Ribeirão, onde me formei, e com o qual continuo a trabalhar, mostra o quanto sou uma pessoa de sorte, um privilegiado.
Obrigado, gloriosa FMRP-USP! Obrigado, meus mestres e mentores!
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