Um dos maiores ortopedistas do País e presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), Moisés Cohen conversou comigo, com exclusividade, e falou sobre sua gestão à frente da Sociedade, sobre o congresso que a SBOT realizará em novembro e sobre medicina esportiva. Confira!
Com 40 anos de história na medicina, Moisés Cohen é uma das maiores autoridades em cirurgia do joelho e medicina do esporte do País. Sem dúvida, uma referência para mim. Além de compartilhar a mesma profissão e especialização de Cohen, tenho, assim como Cohen, a paixão e a militância na ortopedia esportiva.
Moisés Cohen tem uma trajetória acadêmica e como líder de sociedades ortopédicas do Brasil e do mundo de encher os olhos. Passou pela Sociedade Latino-Americana de Ortopedia e Traumatologia (SLAOT), Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ) e Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE) e, de 2011 a 2013, presidiu a Sociedade Mundial de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Trauma Desportivo (ISAKO).
Há décadas, Moisés Cohen também é professor titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Ele encabeça projetos como o Centro de Traumatologia do Esporte (CETE) e o Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP.
Seus feitos, contudo, não se limitam ao universo acadêmico e associativo. Moisés Cohen é um empreendedor. Seu grande projeto de vida é o Instituto Cohen, a clínica que lhe permitiu unir, num só empreendimento, os três pilares de sua trajetória na medicina: ortopedia, reabilitação e medicina esportiva.
Mas a razão dessa entrevista é seu mais novo desafio. Em janeiro deste ano, Cohen assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). Embora se possa pensar que, para alguém com a experiência associativa internacional que tem, seja um desafio simples, Cohen sabe de sua enorme responsabilidade.
Como tem sido em tudo o que se propõe a fazer na vida, Moisés Cohen trabalha firme para deixar um rico legado aos próximos presidentes da SBOT.
O que o motivou a assumir a presidência da SBOT, mesmo sendo um profissional altamente demandado e com uma rotina cheia de atividades?
A vontade de poder desenvolver e trazer mais benefícios ao ortopedista brasileiro. Eu milito na Sociedade há muitos anos. Passei por quase todas as comissões da entidade e a oportunidade de assumir a presidência apareceu. Em nenhum momento, fiz campanha ou coisa do gênero. Realmente, sinto-me honrado e orgulhoso por essa oportunidade. Minha ideia, à frente da SBOT, é realmente poder levar adiante o que considero uma boa prática médica e da ortopedia, promover conhecimento, valores profissionais e humano aos ortopedistas. Dessa forma, acredito, eles valorizarão a profissão e serão valorizados. Essa é nossa missão. Por isso, nosso slogan é: “SBOT, vale ser”.
O Dr. assume a presidência num momento em que ainda temos uma conjuntura econômica conturbada. Isso torna a oportunidade ainda mais desafiadora?
A Sociedade, como inúmeras outras entidades de diversos segmentos no País, sofre com o momento econômico do País. Problemas com inadimplência são fruto desse contexto, por exemplo. Chama-nos a atenção que, no caso, muitas vezes, a inadimplência venha de jovens ortopedistas. Nossa missão, nesse sentido, tem sido segurá-los, por meio de campanhas de estímulo à participação mais efetiva na Sociedade. Nesse sentido, criamos a Comissão do Jovem Ortopedista. Essa comissão já está muito ativa, desenvolvendo aplicativos, criando a categoria de SBOT Jr., que envolve o médico na especialização desde o primeiro ano de residência (R1) e com todos os direitos de um sócio ativo. Isso faz com que esses jovens já se envolvam com a sociedade e saibam o que a SBOT faz por ele desde o R1 até o R3.
O jovem é o principal foco de sua gestão?
Não apenas. Estamos implantando um forte trabalho de comunicação. O desafio não é só de fazer pelos nossos associados, mas levar a eles a informações do que está sendo feito. São 15 mil sócios, ao todo, e, por isso, investimos muito no pilar da comunicação. Temos uma equipe de comunicação extremamente profissional, capaz de desenvolver formas diferentes e inovadoras de comunicar, de modo que as realizações da SBOT cheguem ao conhecimento de todos os nossos associados. Queremos, com isso, mostrar a importância da sociedade, a força da SBOT e, assim, mantê-la pujante, renovada, com o engajamento permanente dos ortopedistas, fornecendo a eles conhecimento capaz de melhorá-lo como profissional em todos os sentidos, o que inclui, por exemplo, além dos cursos diretamente ligados à ortopedia, cursos de empreendedorismo e gestão financeira. Também trabalhamos com benefícios. Fizemos, por exemplo, seguro de responsabilidade civil e clube de vantagens, com mais de 200 empresas. Enfim, buscamos mostrar que a SBOT se preocupa com seus sócios e deseja nivelar a ortopedia por cima, defendendo os valores médicos.
O grande evento da SBOT é o Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia (CBOT). O que esperar dele em 2019, que será realizado em Fortaleza, dos dias 14 a 16 de novembro?
O Congresso, nos últimos anos, também sofreu com a situação econômica do País. Isso fez com que muitos profissionais médicos se afastassem do nosso Congresso e centrassem foco em suas especialidades. Mas, em 2019, estamos virando a mesa, mostrando que o Congresso é o mais importante evento da ortopedia brasileira. Serão 21 convidados estrangeiros de alto gabarito, escolhidos pelos comitês especializados, que foram os responsáveis pela elaboração do programa do CBOT. Teremos 11 salas de especialidades do começo ao fim do Congresso. Teremos cadaver lab no meio do programa: são quase 20 exposições cirúrgicas. Haverá, ainda, como disse, cursos de habilidades complementares e paralelas à ortopedia. São novidades que impactam positivamente na procura: até 30 de julho, tínhamos 2 mil inscritos contra 287 no mesmo período do ano passado. Ou seja, há uma mobilização grande do sócio da SBOT.
Todas essas novidades têm contribuído para a negociação com patrocinadores?
Com certeza. Batemos na porta de umas 10 ou 15 empresas que não participavam do CBOT há muitos anos e tivemos uma adesão quase que total. Todas as grandes indústrias voltaram a prestigiar o CBOT, inclusive ajudando a trazer os nomes fortes da ortopedia mundial.
Pode-nos adiantar alguns desses nomes?
Claro. Teremos a presença da presidente da Academia Americana de Ortopedia (AAOS), Kristy L. Weber, especialista em ortopedia pediátrica e oncológica. Também virá Freddie Fu, nome que despensa comentários, um dos maiores cirurgiões de joelho do mundo [o craque sueco Zlatan Ibrahimovic é seu paciente]. Teremos ainda o doutor James Andrews, a quem os ortopedistas brasileiros que iniciaram a prática da artroscopia nos anos 1980 e 1990 devem muito. Seguramente, a maioria de nós, em algum momento, teve aulas com ele. Virá, ainda, Dr. Maurício Kfuri, um brasileiro, formado pela USP de Ribeirão Preto e que tem renome internacional [Kfuri foi meu professor, mentor e orientador de doutorado na FMRP-USP]. Enfim, são muitos profissionais de altíssimo nível e altamente reconhecidos. A importância disso é poder trazer e congregar todos os ortopedistas num evento só, que traga o que há de mais moderno em ortopedia e, ainda, cursos na área de gestão financeira e empreendedorismo. Vamos fazer um pré-congresso dedicado a esse tema em parceria com o Ibmec.
A gente vê, pelos nomes que virão e pela sua biografia, naturalmente, que a medicina esportiva anda de mãos dadas com a ortopedia de ponta. O que pode falar sobre essa relação?
Não tenho dúvida de que o Brasil é um dos maiores centros do mundo de ortopedia esportiva. Somos assim reconhecidos pela Sociedade mundial, a ISAKO. Alguns centros de medicina no Brasil são credenciados pela FIFA e outras entidades importantes do esporte. A traumatologia do esporte no Brasil, nos últimos 15, 20 anos, se desenvolveu muito e eu tenho orgulho de ter sido um dos pioneiros, criando o Centro de Traumatologia do Esporte, na Escola Paulista de Medicina na UNIFESP, com serviço de residência e curso de especialização. Foram ações como esta que fizeram do Brasil uma referência em medicina esportiva. Hoje, temos verdadeiros expoentes da ortopedia esportiva tomando conta da medicina de grandes clubes, cuidando de grandes atletas. A medicina esportiva é uma vitrine. A SBOT tem uma participação importante no fortalecimento da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE), uma sociedade cada vez mais pujante. Eu acho que, cada vez mais, será motivo de orgulho levar a ortopedia do esporte ao pódio do reconhecimento. Seguiremos trabalhando forte nesse sentido.
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