Uma inspiradora visita ao meu passado no ITA

Para vencer os desafios que terei pela frente, preciso do mesmo espírito que meu professor de matemática estimulou em mim na época do vestibular para o ITA. Nunca foi só por um sanduíche. Sempre foi por algo muito maior e que me acompanha até hoje

Por três meses, estudei no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Morava em Piracicaba ainda. Lembro-me de, aos domingos, assistir ao Fantástico com minha namorada à época, hoje atual esposa, Adélia, e, depois do programa dominical, pegar estrada em direção ao ITA. Eu ia para Campinas, entrava na Rodovia Dom Pedro II, depois Dutra, até São José dos Campos, tendo como destino o Centro Técnico de Aeronáutica do ITA.  

As lembranças desse tempo me ocorreram nesta semana, quando tirei uns poucos dias com a família, aproveitando as férias escolares das crianças, e saí de Ribeirão Preto para desfrutar do frio de Campos do Jordão. No caminho, pela Rodovia Dom Pedro, a memória dessa experiência, que não chegou a três meses, aflorou. Os afetos, as conquistas e os aprendizados podem durar pouco cronologicamente, mas, quando marcam, ficam para sempre em nossas lembranças.

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A família Salim em frente ao CTA do ITA

Por isso, resolvi aproveitar a viagem para passar em frente ao ITA e dizer, à minha família, a importância daquele lugar para mim. Eu entrei no instituto para vencer um desafio e atender ao pedido de um professor de matemática que dizia que eu era muito bom na disciplina. Ele sabia que eu queria cursar medicina, mas, mesmo assim, queria ver seu pupilo se pôr à prova num vestibular com alto nível de exigência nas matérias de exatas.

Além do sentimento de realização, de vitória mesmo, meu êxito valeria um bom sanduíche — ele havia sugerido me presentear com o CD da minha banda preferida, mas nunca tive uma banda preferida, em contrapartida, sempre fui um bom garfo, por isso, pedi um lanche. O fato é que eu “passei no ITA” e, como os resultados dos vestibulares em medicina que eu havia feito só sairiam dois meses depois do início das aulas no ITA, decidi começar os estudos no instituto.

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Minha passagem pelo ITA foi curta, mas inesquecível

Não imaginava que a alegria do meu mestre se transformaria numa experiência marcante para mim, a ponto de, hoje, às vezes, eu me perguntar se não deveria ter ido até o fim no ITA e me tornar médico depois. O fato é que, em três meses, fiz amigos para a vida e aprendi lições que nunca mais sairão de mim, as quais levei para a minha carreira de médico desde o momento em que pisei na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

No ITA, havia o que chamávamos de disciplina consciente (DC). O aluno do CTA não cola e a instituição não cobra nem fiscaliza sua conduta. Muitas vezes, ele leva a prova para casa e tem o compromisso de realizá-la dentro do prazo estabelecido e sem usar material de apoio não autorizado. Cumprir o acordo é uma questão da consciência dele e eu posso dizer que, no pouco tempo que estive lá e pelos amigos que cultivo até hoje e que foram até o fim do curso, esse compromisso era e é muito respeitado.

Se o vestibular do ITA é um dos mais difíceis, não seria exagero dizer que, ainda mais difícil, é terminar o curso. Pegar mais de duas DPs (reprovações) significa perder a vaga no ITA. Esse grau de exigência é importante para formar profissionais, de fato, comprometidos, capazes e dedicados. Eu fui à formatura dos meus colegas, com os quais ingressei no curso, e pude ver dois deles serem homenageados com a Summa Cum Laude (Supremo Louvor). Isso porque, ao longo de todo o curso, eles não tiveram, sequer, uma nota inferior a nove.

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ITA: Um lugar me inspira a novos voos

Vale lembrar que os profissionais formados pelo ITA invariavelmente conseguem grande projeção profissional. Não estamos falando apenas de engenheiros, muitos se tornam executivos eminentes de multinacionais.

Não é exagero dizer que a medicina traz muito dessa cultura de exigência e superação. Não é sem motivo que me identifico com os valores do instituto. É interessante constatar que a minha passagem pelo ITA, nesta semana, reflete o momento que estou vivendo em grande medida. Não posso dar detalhes agora, mas, em breve, anunciarei algumas mudanças. E essas mudanças me obrigam a rememorar e reavivar o espírito de superação e autoconfiança que me fez ingressar no ITA, há algumas décadas.

Para vencer os desafios que terei pela frente, preciso do mesmo espírito que meu professor de matemática estimulou em mim na época do vestibular. Nunca foi só por um sanduíche. Sempre foi por algo muito maior e que me acompanha até hoje. Que os ares do ITA me inspirem e me deem força para superar os desafios que terei pela frente e dos quais trarei novidades logo, logo. Aguardem!

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