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Em mês de Olimpíadas, uma entrevista com o “Dr. Olímpico”, Wagner Castropil

Uma Olimpíada como atleta e duas como médico. Dr. Wagner Castropil tem uma rica história com o esporte, com a medicina e, mais especificamente, com a própria Olimpíada.

Dr. Wagner Castropil é colega de profissão e amigo do Dr. Rodrigo Salim. Além de médicos ortopedistas, são especializados em cirurgia do joelho. Castropil também se especializou em cirurgia do ombro e não esconde de ninguém que o interesse por ambas as articulações surgiu no período em que era judoca de alto rendimento e precisou passar, em circunstâncias distintas, por cirurgias tanto no joelho quanto no ombro.

Aliás, sua história é bem incomum: Castropil conciliou por um bom tempo o curso na Faculdade de Medicina na USP de São Paulo com a busca do sonho olímpico. O mais impressionante é que ele conseguiu ir às Olimpíadas de Barcelona em 1992 e, mais tarde, tornar-se-ia também médico da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Toda essa história lhe renderia a alcunha, dada pela imprensa brasileira, de “Dr. Olímpico”.

Além da carreira como atleta e médico, Castropil fundou, em 2000, o Vita Ortopedia e Fisioterapia, cuja finalidade era proporcionar cuidados médicos ortopédicos por meio de um time multidisciplinar. A empresa, hoje, faz parte do Grupo Fleury e Castropil segue no time, como médico e membro do Conselho de Administração.

Aproveitando o ensejo das Olimpíadas de Paris, que começam neste mês de julho, Rodrigo Salim convidou Wagner Castropil para dividir um pouco dessa riquíssima experiência como atleta e, claro, como ortopedista e médico do esporte.

 

Castropil, é possível dizer que a experiência como atleta e, mais especificamente, a experiência olímpica foi importante para o médico que você se tornaria?

A participação como atleta na Olimpíada de Barcelona-92 foi fundamental para moldar meu perfil não só como atleta, mas como o médico que, depois, eu me tornaria. Vivi na pele, como aluno de medicina, todos os impactos que o treino de alta performance tem no organismo: tanto do ponto de vista fisiológico e nutricional, quanto de performance esportiva. Imagina um aluno de medicina, no primeiro, segundo, terceiro, quarto ano de medicina, estudando fisiologia e colocando esse mesmo tipo de estímulo, de impacto e experiência na prática. Sentindo no próprio corpo o que estudava sobre fisiologia. Compreendendo, na própria experiência física, o funcionamento do aparelho cardiopulmonar, o impacto da perda de peso, o metabolismo e também o funcionamento do aparelho locomotor — o que se deu, vale dizer, muito em função das lesões sofridas ao longo da carreira como atleta. Em outras palavras, estudava na teoria o aparelho locomotor e, na prática, tinha as minhas lesões; via como isso se dava, como era a recuperação. Eu, na teoria, estudava o meu aparelho cardiovascular e, na prática, via a minha fisiologia melhorando. Estudava na teoria o meu metabolismo e, depois, via na prática como a dieta e os treinos também se refletiam em seu funcionamento. Foi muito produtivo e enriquecedor viver essa experiência como atleta para o médico que eu viria a ser.

 

O que é participar de uma Olimpíada? Dá para traduzir essa vivência?

Chegar às Olimpíadas como atleta é uma coroação. Acho que deve ser assim para qualquer atleta que se destaca em sua modalidade. Isso porque, quase sempre, constrói-se essa participação ao longo de uma carreira. Comigo foi assim. Antes das Olimpíadas, precisei ser campeão da minha região no estado de São Paulo, ser campeão paulista, campeão brasileiro — foram três títulos nacionais conquistados por Castropil —, sul-americano e pan-americano. Disputei três ciclos olímpicos, 1984, 1988 e 1992, até conseguir a minha vaga olímpica para Barcelona-92. A missão, então, estava cumprida e eu, depois dessa participação, encerrei a minha carreira como atleta de alta performance. Não foi só a dificuldade desportiva que me ensinou muito nesse período, afinal, estamos falando dos melhores do País, do continente e do mundo, tive de encontrar meios de conciliar a vida de atleta profissional com a de estudante de medicina na USP. Claro que precisei trancar a faculdade em alguns momentos. Mas, depois de me aposentar, tinha um norte: seria um médico e, curiosamente, minha profissão iria me permitir que continuasse a respirar e viver o mundo do esporte.

 

Qual foi o principal aprendizado que obteve como atleta para a carreira de médico?

A growth mindset, ou seja, uma “mentalidade de crescimento”, é o que caracteriza o atleta de alto rendimento, porque ele sabe que precisa estar sempre melhorando, sempre treinando, sempre se aprimorando para obter os melhores resultados. Essa mentalidade, a meu ver, é fundamental para o sucesso em qualquer outra área da vida. Eu procuro aplicá-la como médico também. Minha ideia é estar sempre progredindo, aprendendo, sempre procurando desenvolver melhor a minha técnica, meu relacionamento com os colegas e com os pacientes. Essa mentalidade é o principal legado que tenho da minha história como atleta. Tão importante quanto preservar um compromisso com o cuidado do próprio corpo, é trazer essa mentalidade tão importante para vivê-la em outros aspectos da vida. Acho que os atletas, mesmo depois da aposentadoria, devem ter isso em mente.

 

As Olimpíadas eram seu sonho como atleta e, depois de alcançá-lo, você tinha um novo caminho a percorrer. Como foi este fim e, ao mesmo tempo, novo começo?

Depois de Barcelona-92, voltei e comecei um novo ciclo de desenvolvimento na minha vida, de aprendizado na área médica. Fiz residência médica, me especializei em joelho, ombro, medicina esportiva e fiz meu mestrado — mais à frente, também faria doutorado. Foi então que voltei para o cenário olímpico em Atenas-2004 e Pequim-2008, como médico da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Foi muito interessante viver esses dois ciclos olímpicos como membro do departamento médico, poder apoiar atletas como médico e, de alguma maneira, também tecnicamente, compartilhando com eles a minha experiência como atleta. Eu pude ver alguns deles conquistarem medalhas valiosas para o nosso país.

 

Esporte e medicina são partes indissociáveis da sua história. Falamos sobre como o esporte contribuiu para o médico que você se tornou. Fale-nos um pouco da sua visão sobre como a medicina transforma o esporte? 

A medicina do esporte faz parte do que a gente chama de ciência do esporte e acho legal falar do tema pela perspectiva da ciência do esporte. Eu acho que a ciência do esporte é fundamental para o que chamamos de “the last mile”, ou seja, para que se consiga oferecer para o atleta aquele último detalhe de performance fundamental para o melhor resultado possível. Os atletas que chegam a uma Olimpíada são extremamente preparados e muito, muito equiparados em termos de resultados. Isso significa que se ganha no detalhe, num instante de desantação, no último segundo, na última abraçada, por um milésimo de segundo. É aí que entra a ciência do esporte, envolvendo a medicina, a fisiologia, a fisioterapia, a preparação física, a psicologia, a análise biomecânica, enfim, são muitas variáveis e campos de conhecimento envolvidos para que o desempenho do atleta e seus resultados evoluam dia a dia.

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