Ribeirão Preto é vanguarda na reconstrução de LCA em crianças

A reconstrução do LCA em crianças exige total atenção do médico para evitar possíveis prejuízos ao crescimento do paciente. É necessário avaliar que tipo de técnica é a mais apropriada e ter à disposição as ferramentas mais modernas disponíveis no mercado

A ortopedia de Ribeirão Preto é novamente vanguarda no tratamento de lesão ortopédica, mais precisamente em cirurgia do joelho. A cidade, por meio do Hospital da Unimed (HURP), teve a honra de sediar um procedimento de reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA) num esqueleto imaturo — em linguagem menos técnica, em crianças ainda em estágio de crescimento — usando, pela primeira vez, uma novíssima e moderna ferramenta no Brasil.

A reconstrução do ligamento numa criança não é um fato novo, mas, antes de chegarmos à novidade, é importante trazer o contexto envolvendo esse tipo de procedimento. Até bem pouco tempo atrás, a ruptura de LCA, em crianças, não era algo comum. Contudo, isso tem mudado e cada vez mais crianças chegam ao consultório com o LCA rompido. 

Esse aumento tem relação com a prática esportiva num grau de exigência e competitividade que pode ultrapassar os limites físicos de um esqueleto imaturo. Além da imaturidade física, deve-se considerar aspectos sociais e psicológicos. Afinal, em nosso país, é comum que pese, sobre os ombros desses jovens pacientes com grande talento esportivo, a esperança, não apenas sua, mas de toda a família, de que alcance uma carreira atlética vitoriosa e de que faça fortuna por meio dela.

Coloco esses pontos porque, em muitos casos, eles fazem parte do contexto em que a cirurgia é realizada, adicionando ao tratamento um grau ainda maior de complexidade. Em outras palavras, a realização de uma cirurgia como esta diz respeito não apenas ao futuro de um pequeno atleta, mas também, muitas vezes, de sua família.

Já expliquei algumas vezes o quão importante é o ligamento cruzado anterior, servindo para controlar a tíbia, impedindo-a de se mover para frente em relação ao fêmur, além de manter a estabilidade no estresse em varo e em valgo do joelho.

A ruptura do LCA em crianças costuma ser consequência de uma entorse de joelho durante a prática esportiva, acompanhada de um estalo (30% ou 40% dos casos) e de inchaço. A dificuldade inicial, para o médico, é diferenciar se se trata de uma lesão no LCA ou uma luxação da patela. O exame físico é fundamental para fazer o diagnóstico correto. Claro, não se pode prescindir dos exames de imagem, que são igualmente importantes, sobretudo a ressonância magnética, que nos permite precisar a lesão e analisar a cartilagem de crescimento.

É da fise, essa cartilagem, que a gente precisa falar para entender a dificuldade e a importância do fato novo que trarei adiante.

Vale explicar que a fise do fêmur  é responsável  por 70% do crescimento do membro inferior. Num procedimento dessa natureza, é necessário considerar esse aspecto. Não por acaso, antigamente, tinha-se dúvida sobre submeter uma criança a um procedimento dessa natureza. O receio era, na cirurgia, lesar a fise e causar um distúrbio de crescimento na criança.

No entanto, os tratamentos não cirúrgicos não se mostraram eficazes para esses casos e o tempo provou que a cirurgia era melhor em vários aspectos: estabilidade, retorno ao esporte e prevenção de novas lesões. Mesmo para crianças, o tratamento cirúrgico mostrou-se recomendável. Um dos maiores autores sobre essa lesão no mundo é um brasileiro: o amigo e grande referência, Dr. Moisés Cohen.

Diante da constatação de que a cirurgia era válida, o dilema então mudou e passou a ser: qual é a melhor técnica cirúrgica para tratar a ruptura de LCA em esqueletos imaturos? E a resposta foi: depende. Antes de escolher a técnica, o médico precisa fazer uma avaliação sobre o potencial de crescimento do paciente, o que passa a ser uma das variáveis para escolha do método mais apropriado para o caso específico e, nesse sentido, as tecnologias disponíveis no mercado cumprem um papel muito importante também. Há três subgrupos de técnicas, uma que deixa as fises da tíbia e do fêmur intactas, outra pressupõe que se fure apenas a fise da tíbia e há a técnica usada em adultos.

Dado o contexto, vamos à novidade que foi o uso de uma tecnologia de última geração, chamada Twistr™️ Retrograde Reamer and CRUCIATE+ Instrument System, da Johnson & Johnson DePuy. O equipamento facilitou a realização do procedimento técnico de reconstrução do LCA com enxerto  flexores e túnel femoral epifisário, algo que eu já havia feito algumas vezes antes, mas sem essa tecnologia. Isso quer dizer que pudemos preservar a fise do fêmur, perfurando apenas a epífise, que fica abaixo da fise.

A cirurgia ocorreu sem intercorrências e de forma segura. Com grande alegria, então, divido essa experiência com vocês e, claro, aproveito para desejar, ao meu jovem paciente e novo amigo, todo o sucesso do mundo; que consiga se tornar aquilo que, na idade dele, eu também sonhava vir a ser: um jogador caro.

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1 Comentário

  1. Alex Telles

    Excelente a matéria… Sucesso aos nossos médicos que fazem muito pelas nossas crianças.
    Trabalho com futebol de iniciação e realmente é uma judiação o que os pais estão fazendo com as crianças.

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